Quem não gosta de ler um bestseller internacional? Não estou a falar de romances que acabam sempre bem à luz de velas, ou de policiais que revelam no último minuto quem foi o assassino. Este não é um desses livros, mas garanto que mudará a sua maneira de ver os relacionamentos e como interage com as pessoas. Autoajuda? Nem pensar!
Estou a falar do livro de Marshall B. Rosenberg, publicado pela primeira vez em 2005, e da sua edição de 2024: “Comunicação Não Violenta e Resolução de Conflitos”.
Em tempos de mudanças na campanha presidencial nos Estados Unidos (Thanks God… and some friends such as Barack Obama!), ler este livro e praticar as suas sugestões é um bom caminho para uma vida mais equilibrada.
Como o movimento de Comunicação Não Violenta começou há décadas, hoje muitos adeptos desta prática já leram o livro. O autor, Marshall Bertram Rosenberg, nascido em 1934 e falecido em 2015, aos 81 anos, foi um psicólogo americano que desenvolveu a CNV para resolver conflitos, baseado nos métodos de terapia de Carl Rogers, seu amigo e mentor, com quem trabalhou. Marshall realizava workshops em várias regiões do país para ensinar as pessoas a resolverem conflitos de maneira rápida e sem usar a violência.
O seu método foi desenvolvido quando, no começo dos anos 1960, se ocupava da arbitragem como orientador educacional em escolas e universidades que abandonavam a segregação racial, num processo longe de ser pacífico. Foi neste cenário que desenvolveu o método de CNV.
Atualmente, a CNV serve de guia para a resolução de conflitos em mais de 65 países ao redor do mundo, sendo também aplicada no desenvolvimento de novos sistemas sociais e em várias áreas, como a educação e a justiça, onde se dá prioridade a considerar os valores comuns entre todos, numa atitude baseada na empatia. Antes de sua morte, Rosenberg mediou conflitos e levou programas de paz a regiões assoladas por guerras, como Sérvia-Croácia e Ruanda. Contudo, o interessante é notar que a sua estratégia serve também para apaziguar os combates verbais do nosso dia-a-dia.
Segundo ele, é como falamos e ouvimos os outros que se encontra a chave para solucionar desavenças e discórdias.
Vamos ao livro?
O primeiro capítulo aborda o objetivo da CNV – “uma combinação de pensamento e linguagem, bem como alguns recursos destinados a usar o poder que temos para servir intenções específicas. Uma destas intenções está na criação de qualidade na ligação com outras pessoas e connosco, qualidade essa que permite que dádivas compassivas aconteçam. Nesse sentido, trata-se de uma prática espiritual: todas as ações são levadas a cabo com o único propósito de contribuir para o nosso bem-estar e para o bem-estar dos outros”, segundo o autor.
Para facilitar a leitura, a cada grupo de três parágrafos, em média, há uma frase em negrito como a indicar o conteúdo seguinte. Além disso, usa exemplos de vida comum que torna a leitura fácil de ser assimilada.
Na primeira parte, apresenta a mecânica da CNV. Após transmitir os princípios para a mudança pessoal, traz exercícios pessoais para que a pessoa reflita e avalie a mudança interna. São quatro preceitos: observações, sentimentos, necessidades, pedidos.
A segunda parte aborda a aplicação da CNV, destacando a autoeducação. Afinal, ninguém obrigou a pessoa a comprar o livro, entender os princípios da Comunicação Não Violenta e desejar uma mudança, para que possa comunicar-se melhor com os outros e, no final do dia, estar tão bem como no seu princípio. (E se não começou bem o dia, é um ponto para reflexão).
E se depois de quase 80 páginas, a pessoa ainda não consegue ver a beleza nos outros, é hora de retomar a leitura desde o início…
Ao chegar às 90 páginas, é feita a proposta: O que queremos mudar? E com a frase de George Bernard Shaw:
“O progresso é impossível sem mudança, e quem não muda a sua mente, nada pode mudar”.
O livro ainda traz contextos sobre a formação de gangues e outras estruturas dominantes, em que o autor narra as suas experiências bem-sucedidas em escolas e em guetos.
A última parte aborda a mudança social, com narrativas sobre processos de construção de paz em conflitos, mostrando como é possível o uso da CNV para melhor trabalho em equipas e criar reuniões produtivas. Os contributos são as histórias que Rosenberg narra das suas vivências em países em guerra ou em outras situações de conflitos.
Uma historinha pessoal
Isso remete-me a uma situação vivida há algumas décadas em Monte Dourado, cidade do norte do Pará que abrigava uma unidade produtiva da empresa onde eu trabalhava. O responsável pela Fundação da empresa todos os dias ia para uma quadra de desportos abandonada, sentava-se numa cadeira e aguardava. Perguntado sobre o seu objetivo, com calma, disse: “aqui há gangues de jovens que não encontram objetivos nas suas vidas. Eu simplesmente sento-me e espero que se aproximem. Estabeleço um diálogo, sem preconceitos, sem lições de vida. Apenas escuto com empatia. A partir daí, muitos começam um processo de mudança. São eles que conduzem esse processo. Eu apenas ajudo”.
Boa leitura e rumo a uma mudança interior!